Crônicas de um Homem Morto

03 dezembro 2006

(Esperando no) Elevador - Parte III

- Desce?
- Não, sobe.
- Ok, não vou esperar outro mesmo.

Um elevador é, certamente, um dos piores lugares da terra em que você entra espontaneamente. É terrível a agonia de olhar para o marcador de andares, torcendo para que aquele indivíduo que está ao seu lado não comece com nenhum papo de chuva ou sobre a maldita reunião condominial que ninguém dá a mínima.

Na verdade, ninguém se importa com nada que é discutido em um elevador. Falando sério, nada que seja discutido em um condomínio é de importância, apenas que queremos dar o nosso dinheiro ao síndico e torcer para que ele seja o menos corrupto possível.

Leia-se: roube sem a gente perceber.

E aqui estou, no elevador. Ao meu lado alguém que nunca vi na vida, com barba de um dia, chinelo, sem aliança e o jornal recém-apanhado na portaria.

Isso às duas horas da tarde de um terça-feira.

Desconfio que ele esteja morto. Tenho certeza que ele acha que não.

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