Crônicas de um Homem Morto

29 outubro 2011

A Moral da História - Parte XXXII

Existe algo esquisito que vocês chamam de honra. De fora, a única noção que eu tenho é de algo subjetivo. Seria uma espécie de cobertura, que varia de pessoa para pessoa e que define limites sobre quem se é.

Assim, se é subjetivo, como lidar com as pessoas? Como interpretar os limites de cada um? Age-se como se todos tivessem uma? Ou ignoramos a sua existência e partimos do princípio que todos têm um preço?

E em todas as vezes que ouvi a palavra honra, havia sempre uma menção a "preço". Assim, parece-me que existe um nível onde a honra é atacada e um valor para que se possa comprá-la; definimos, então, uma espécie de faixa onde a consciência (e a honra não seria uma consequência desta?) impede que os homens ultrapassem o seu limite.

Ora, se todos os homens em estado normal estão dentro desta "faixa", se é a consciência que os mantêm assim - embora o ato de transpô-la também seja um ato racional - e se também é a consciência que define a honra de cada um; como falar que alguém tem honra ou se acreditar honrado?

Há de se supor, então, que exista um outro nível que distingua as pessoas, que as façam crer que são diferentes.

Um dia eu vou entender a moral dessa história.

13 julho 2011

Linhas - Parte XXXI

Uma linha à frente pode ter vários significados, a depender da posição do referencial e, principalmente, da forma pela qual este a interpreta.

Assim, uma linha pode ser um objetivo a ser trespassado, assumindo, então, que é aquele lugar que se quer atingir e ultrapassar. Pode, ser, também, um limite, estabelecendo uma divisão.

E, por último, uma linha pode ser imaginária. Aliás, qualquer linha - seja ela um objetivo ou um limite - é fruto de nossos pensamentos. Hemisférios e trópicos não existem, países não são reais. Se assim é, por que, então, as outras hão de ser?

Não são.

02 junho 2011

Acertando as contas com o passado - Parte XXX

Eu parei por um momento e me lembrei como era o passado. Ele era certo. Bem, certo e cinza.

Eu pensei em tudo o que eu fazia e no que me dava, de certa forma, prazer. Eu me lembrei dos computadores e das pessoas, e das pessoas e dos computadores. Dos telefones. Das ruas cheias. 

Assim, eu tentava me lembrar da definição de prazer. Foi difícil achar qual sorriso era real. E se eu fosse estabelecer uma relação entre o prazer e todo o resto, o que eu obteria? E se eu, à época, chegasse a esse cálculo, ele não seria afetado?

Aí, eu comparei com o que tenho hoje. Não há diferença. Quer dizer, há: eu sei fazer contas.

18 maio 2011

Confronto com o Espelho - Parte XIX

Parado, contemplando-o, há duas imagens que brigam entre si. Não são opostas - por vezes, acredita-se que não são iguais. E, assim sendo, há a ilusão que é possível mudar o vencedor. Não, não há. Ele sempre será o mesmo, não importa a ajuda que apareça.

E deixando este tipo de imagem de lado, a mudança de ambiente favorece o mesmo tipo de belicismo - só que quase sempre não-visual.

A mente leva ao conflito; o contraditório, à guerra. E a paz só pode levar à loucura.

13 maio 2011

Indo às Compras - Parte XXVIII

As escolhas somos nós. E se nós escolhemos mal, isso deve significar alguma coisa.

Ora, há sempre a chance de terceirizar a culpa. Com isso, some uma respiração mais profunda à equação e a próxima será de alívio.

É simples, muito simples.

Resta saber se é mais simples do que evitar escolher o que te oferecem.

O passado diz que não, a experiência só fala no que seria melhor.

E o carrinho cada vez mais cheio. E caro. E pesado. E ele é seu.

27 abril 2011

Pontos - Parte XXVII

Pontos, ao se separarem, criam uma reta imaginária. Esta poderá continuar a existir pela influência dos pontos. Aliás, o próprio formato da reta (ou se ela será uma) é decidido pelas extremidades.

Se pontilhado, tracejado ou, simplesmente, uma reta; vai depender do que aconteceu antes. E de como se convive com a reta.

Bem, afinal, eles sempre podem se tornar apenas pontos.

21 abril 2011

Assimilando - Parte XXVI

Cansado, sem motivos para sorrir.
E ser menos um é agonia?
Pausas servem para refletir
ou a reafirmar a monotomia?

De longe, apenas nos observamos.
A mente pode te tornar intangível
Se é o futuro que almejamos,
torne o presente possível

E, assim, há a crítica arrogante.
Talvez de alguém nem tão distante,
que acredita que, em um rompante,
Pode julgar a todos em um instante

A diferença está em escrever.
Sem hesitar, eu posso descrever
ações e visões que, para a maioria,
não passariam de harmonia

E aí está a grande ironia.
Para eles, reta. Para mim, curva.
E se há divergência no que seria,
a causa é apenas uma lente turva.

28 março 2011

Próxima Parada - Parte XXV

Eles não olham para os lados, há muita coisa ao longe para distrai-los. Assim, a minha viagem torna-se solitária.

O silêncio não é o repouso de corpos cansados, muito menos a reflexão de uma mente preocupada. As pálpebras pesam, o ângulo do olhar que dá de encontro ao chão; tudo isso é sintoma de caso avançado de sobrevivência.

Saltei.

27 março 2011

Delírios na Biblioteca - Parte XXIV

Aqui, na biblioteca, as páginas amontoam-se esmagadas por capas e estantes. Lá fora, é a mesma coisa, desta vez com roupas.

Entretanto, aqui eu posso fazer a minha escolha em um ambiente mais organizado. Embora aqui também existam as regras de ocasião, ao menos o tempo tratou de conservar aqueles que ninguém quis, cujo conteúdo é ignorado pela maioria. Para eles, o fim da fila, a fileira mais alta da estante, a camada mais grossa de poeira.

Bem, ao menos eu sei onde devo procurar. Lá fora é muito chato.

12 março 2011

Os meus devaneios - Parte XXIII

Eu não sonho. Deito-me e só me vem à cabeça a completa escuridão.

Porém, se tivesse que escolher, ficaria com os meus devaneios. Pequenas conversas cinematográficas que travo com o meu eu. Elas me são muito mais úteis que horas de ação onde eu não tenho o controle.

E, assim, concluo que, por mais que algumas vezes soe como o contrário, ideias não são crimes. E crimes também não são ideias, mas nada senão reações. E se assim são, não são dignas de atenção, pois, ora, são frutos originais de outrem.

Por mais que sejamos cópias, eu não preciso adorar os meus semelhantes e os seus métodos. Quando a quantidade é um fim em si mesma, há algo errado.

- Bom dia.

01 março 2011

A casa da Justiça - Parte XXII

Ela é individual,
influenciável,
algumas diferentes,
mas sempre abominável.

Por vezes,
terceiriza.
Assim, sorri
E agoniza

Quando não é,
fica isolada.
Ou é seguida
ou amaldiçoada.

É muito mais fácil
do lado de fora.
Um véu, um perfume:
o lucro vem na hora.

Alguns convivem
com esse dilema.
E se assim vivem,
então, não há problema

11 fevereiro 2011

O sorriso, as escadas e a escolha - Parte XXI

Eu descia a escada rolante. Despreocupado, procurei um chiclete no bolso da calça já apertada após tantos anos de uso. Nessas horas, ajo como se estivesse diante de uma câmera e faço questão de fazer uma expressão de alguém que não está entendendo o que está acontecendo. No caso, o sumiço do chiclete.

Decerto, foi isso que atraiu o sorriso que veio da escada que subia ao lado. Nesse momento, o chiclete já era alvo secundário e o meu olhar buscou as laterais do meus ombros em busca do possível alvo daquele belo aceno.

Provavelmente, eu queria que os meus olhos estivessem certos. Tanto é que, ao chegar ao meu destino, eu segui nele. Acho que a direção das escadas dizia muita coisa.

08 fevereiro 2011

A carteira e o mundo - Parte XX

- Ao abrir a carteira, eu controlo as decisões. Se serei gentil ou educado, é uma decisão minha, portanto, o papel que eu irei interpretar a partir de agora, terá você como coadjuvante. E eu tenho certeza que você irá colaborar.

- Se é assim...

- E, de certa forma, eu só coloco em palavras o acordo tácito que existe. Mas, pensando bem, não é assim que funciona lá fora? Eu sairei e serei protagonista e coadjuvante, tudo vai depender de quem tiver...

- Vai demorar?

- Ei, já esqueceu o seu papel?

03 fevereiro 2011

Refletindo no Café - Parte XIX

Eu não gosto de café. Para falar a verdade, acredito que muitos aqui também. Eu poderia continuar, mas é melhor parar, obviedades são tediosas quando mostradas todas de uma vez.

Falando em tédio, as bocas forçosamente abertas e os dentes cuidadosamente expostos me cansam. Mas eu sigo apenas a observá-los.

O alívio a cada gole é um comercial sem câmeras. O aroma é percebido como um elixir.

- Droga.

05 janeiro 2011

Primeiro dia no Emprego - Parte XVIII

Eu paro e observo. Atentamente, tento descrever o que são aquelas pessoas atrás de mesas apertadas e olhares preocupados para as suas respectivas telas de computador.

Imagino, então, que daqui a alguns meses, as posições estarão trocadas. Eu estarei sentado e algum outro aparecerá. Provavelmente, no lugar de alguém que eu terei convivido dia após dia, compartilhado emoções, experiências e almoços.

Volto à realidade e pergunto onde eu assino.