Crônicas de um Homem Morto

30 março 2013

À Noite - Parte XLII


Lembrei-me de uma história

Ela apareceu como se procurasse por mim, mesmo sem saber da minha existência. Eu soube da dela, no ato. O olhar de desdém que se perdia ao fundo da casa noturna ignorava aquele que se dirigia a ela: o meu.

Era alta, maior que a maioria dos homens que a ignoravam e buscavam sucesso junto às demais. Talvez o seu vestido acompanhasse a dona nessa proporção em comparação às semelhantes do local, mas eu não tive tempo de preocupar-me com isso. Passava-me pela cabeça apenas o quanto o meu ego suportaria se soubesse que a atenção de alguns estava voltada para alguém cujo cotovelo ancorava-se na mesa para que a mão servisse como uma base para o binóculo alvejasse a beleza da lua.

Eu não tirava os olhos dela.

Voltei minha atenção para a Terra. Antes que pudesse acostumar-me, uma mão tocou o meu ombro ao mesmo tempo em que um "oi" ecoava pelo meu ouvido direito. Não sei se sorri para a sorte, mas quem tomei por astro estava à minha órbita.

E assim gravitamos por longas semanas.

O único problema das estrelas é que alguns eclipses duram muito mais que uma simples noite. E um eclipse nunca existe ao mesmo tempo para todos.

1 comentários:

Knowthecrowdneverbelong disse...

Séria ridículo no limite dos quarenta, ainda desejar , sonhar com contos, crônicas, ficções, romances? Acredito que não... Essa é a verdadeira função das boas palavras; nos levar para lugares nunca antes percorridos ou quem sabe, reviver uma existência. Mesmo que o eclipse de cada um pareça um clichê.