Nós somos as nossas escolhas. Cada uma delas ajuda a nos
definir, a dizer quem somos. Vamos a uma história.
Naquele passado distante e enclausurado, havia uma moça que
tinha o estranho costume de chorar às segundas-feiras. Não era apenas no início
da semana, mas parecia que os acontecimentos nas suas folgas minavam o seu
ânimo – que parecia ser reconstruído nos outro quatro "dias úteis".
Qualquer coisa alterava o seu humor. Só que um telefonema ou
a ausência deste eram ainda mais impactantes. Mesmo que não me importasse, eu
me aproximava uma vez ou outra para tentar entender aquelas súbitas alterações
emocionais.
Quase sempre havia alguém a acudi-la. Os lamentos eram
seguidos de soluço e frases encorajadoras como "não fique assim",
"ele não te merece", "você vai encontrar alguém especial" e
"você é uma boa pessoa" e outras afirmativas vazias como estas.
Pus-me a pensar. A causa do sofrimento, então, era outra
pessoa. Ou melhor, outras. Não era possível que alguém repetisse o mesmo
comportamento com o mesmo sujeito. Passei a observá-la melhor.
Eu não tinha mais o que fazer da minha vida e sempre chegava
cedo. Parava no café e por lá ficava a observar como os cafés repousavam nas
mãos por muito tempo, muito mais que o desejado por aqueles que têm sala
exclusiva nesse andar.
Entre um gole d'água e outro, chegou a vítima dos homens.
Óculos escuros na face, ignorou solenemente aqueles que estavam no seu caminho.
De fato, os seus passos pareciam apressados demais para um escritório. Eu
sorri.
Passei a repetir o ritual. Ela, como se houvesse combinado,
cumpria com maestria o seu papel, repetindo com exatidão o que havia feito na
primeira vez. Até que, uma manhã, houve um "bom dia" e um sorriso.
Ele tinha uma sala exclusiva. Eu sorri novamente.
Enxerguei, ali, um possível padrão. Nas outras vezes, o
cumprimento veio para mim, ou para algum outro vizinho de baía que estava no
seu caminho e só. Pensei em timidez, mas logo a descartei a presenciar um
pedido para aquelas que zelavam pela limpeza. E um cumprimento para um
"sala exclusiva" distante.
Aproximei-me e perguntei:
- A sua seleção é método e, como tal, é indicativa de muita
coisa. Você ainda acredita no que você é?
Finalizei com um "bom dia" e voltei para o café.
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