Crônicas de um Homem Morto

18 maio 2011

Confronto com o Espelho - Parte XIX

Parado, contemplando-o, há duas imagens que brigam entre si. Não são opostas - por vezes, acredita-se que não são iguais. E, assim sendo, há a ilusão que é possível mudar o vencedor. Não, não há. Ele sempre será o mesmo, não importa a ajuda que apareça.

E deixando este tipo de imagem de lado, a mudança de ambiente favorece o mesmo tipo de belicismo - só que quase sempre não-visual.

A mente leva ao conflito; o contraditório, à guerra. E a paz só pode levar à loucura.

13 maio 2011

Indo às Compras - Parte XXVIII

As escolhas somos nós. E se nós escolhemos mal, isso deve significar alguma coisa.

Ora, há sempre a chance de terceirizar a culpa. Com isso, some uma respiração mais profunda à equação e a próxima será de alívio.

É simples, muito simples.

Resta saber se é mais simples do que evitar escolher o que te oferecem.

O passado diz que não, a experiência só fala no que seria melhor.

E o carrinho cada vez mais cheio. E caro. E pesado. E ele é seu.

27 abril 2011

Pontos - Parte XXVII

Pontos, ao se separarem, criam uma reta imaginária. Esta poderá continuar a existir pela influência dos pontos. Aliás, o próprio formato da reta (ou se ela será uma) é decidido pelas extremidades.

Se pontilhado, tracejado ou, simplesmente, uma reta; vai depender do que aconteceu antes. E de como se convive com a reta.

Bem, afinal, eles sempre podem se tornar apenas pontos.

21 abril 2011

Assimilando - Parte XXVI

Cansado, sem motivos para sorrir.
E ser menos um é agonia?
Pausas servem para refletir
ou a reafirmar a monotomia?

De longe, apenas nos observamos.
A mente pode te tornar intangível
Se é o futuro que almejamos,
torne o presente possível

E, assim, há a crítica arrogante.
Talvez de alguém nem tão distante,
que acredita que, em um rompante,
Pode julgar a todos em um instante

A diferença está em escrever.
Sem hesitar, eu posso descrever
ações e visões que, para a maioria,
não passariam de harmonia

E aí está a grande ironia.
Para eles, reta. Para mim, curva.
E se há divergência no que seria,
a causa é apenas uma lente turva.

28 março 2011

Próxima Parada - Parte XXV

Eles não olham para os lados, há muita coisa ao longe para distrai-los. Assim, a minha viagem torna-se solitária.

O silêncio não é o repouso de corpos cansados, muito menos a reflexão de uma mente preocupada. As pálpebras pesam, o ângulo do olhar que dá de encontro ao chão; tudo isso é sintoma de caso avançado de sobrevivência.

Saltei.

27 março 2011

Delírios na Biblioteca - Parte XXIV

Aqui, na biblioteca, as páginas amontoam-se esmagadas por capas e estantes. Lá fora, é a mesma coisa, desta vez com roupas.

Entretanto, aqui eu posso fazer a minha escolha em um ambiente mais organizado. Embora aqui também existam as regras de ocasião, ao menos o tempo tratou de conservar aqueles que ninguém quis, cujo conteúdo é ignorado pela maioria. Para eles, o fim da fila, a fileira mais alta da estante, a camada mais grossa de poeira.

Bem, ao menos eu sei onde devo procurar. Lá fora é muito chato.

12 março 2011

Os meus devaneios - Parte XXIII

Eu não sonho. Deito-me e só me vem à cabeça a completa escuridão.

Porém, se tivesse que escolher, ficaria com os meus devaneios. Pequenas conversas cinematográficas que travo com o meu eu. Elas me são muito mais úteis que horas de ação onde eu não tenho o controle.

E, assim, concluo que, por mais que algumas vezes soe como o contrário, ideias não são crimes. E crimes também não são ideias, mas nada senão reações. E se assim são, não são dignas de atenção, pois, ora, são frutos originais de outrem.

Por mais que sejamos cópias, eu não preciso adorar os meus semelhantes e os seus métodos. Quando a quantidade é um fim em si mesma, há algo errado.

- Bom dia.

01 março 2011

A casa da Justiça - Parte XXII

Ela é individual,
influenciável,
algumas diferentes,
mas sempre abominável.

Por vezes,
terceiriza.
Assim, sorri
E agoniza

Quando não é,
fica isolada.
Ou é seguida
ou amaldiçoada.

É muito mais fácil
do lado de fora.
Um véu, um perfume:
o lucro vem na hora.

Alguns convivem
com esse dilema.
E se assim vivem,
então, não há problema

11 fevereiro 2011

O sorriso, as escadas e a escolha - Parte XXI

Eu descia a escada rolante. Despreocupado, procurei um chiclete no bolso da calça já apertada após tantos anos de uso. Nessas horas, ajo como se estivesse diante de uma câmera e faço questão de fazer uma expressão de alguém que não está entendendo o que está acontecendo. No caso, o sumiço do chiclete.

Decerto, foi isso que atraiu o sorriso que veio da escada que subia ao lado. Nesse momento, o chiclete já era alvo secundário e o meu olhar buscou as laterais do meus ombros em busca do possível alvo daquele belo aceno.

Provavelmente, eu queria que os meus olhos estivessem certos. Tanto é que, ao chegar ao meu destino, eu segui nele. Acho que a direção das escadas dizia muita coisa.

08 fevereiro 2011

A carteira e o mundo - Parte XX

- Ao abrir a carteira, eu controlo as decisões. Se serei gentil ou educado, é uma decisão minha, portanto, o papel que eu irei interpretar a partir de agora, terá você como coadjuvante. E eu tenho certeza que você irá colaborar.

- Se é assim...

- E, de certa forma, eu só coloco em palavras o acordo tácito que existe. Mas, pensando bem, não é assim que funciona lá fora? Eu sairei e serei protagonista e coadjuvante, tudo vai depender de quem tiver...

- Vai demorar?

- Ei, já esqueceu o seu papel?

03 fevereiro 2011

Refletindo no Café - Parte XIX

Eu não gosto de café. Para falar a verdade, acredito que muitos aqui também. Eu poderia continuar, mas é melhor parar, obviedades são tediosas quando mostradas todas de uma vez.

Falando em tédio, as bocas forçosamente abertas e os dentes cuidadosamente expostos me cansam. Mas eu sigo apenas a observá-los.

O alívio a cada gole é um comercial sem câmeras. O aroma é percebido como um elixir.

- Droga.

05 janeiro 2011

Primeiro dia no Emprego - Parte XVIII

Eu paro e observo. Atentamente, tento descrever o que são aquelas pessoas atrás de mesas apertadas e olhares preocupados para as suas respectivas telas de computador.

Imagino, então, que daqui a alguns meses, as posições estarão trocadas. Eu estarei sentado e algum outro aparecerá. Provavelmente, no lugar de alguém que eu terei convivido dia após dia, compartilhado emoções, experiências e almoços.

Volto à realidade e pergunto onde eu assino.

31 outubro 2010

Explicando a Vida - Parte XVII

- É simples, minha cara: você vai errar, chorar, achar que está acertando, chorar, ter alguns sorrisos, chorar novamente e então, finalmente, falará para os mais novos que a vida foi boa. Depois, os olhará pela janela e suspirará, enquanto decide se remexe ou não nas velhas fotos escondidas no alto de algum armário.

- Mas...

- Não há mistério. Resta saber apenas se o saudosismo virá cedo ou na hora correta.

08 outubro 2010

A Discussão - Parte XVI

À distância, observava os dois discutindo. Impressionava a maneira pela qual os gestos dele pareciam reger as lágrimas dela. Ele, claro, não se importava. Muito menos eu.

O espetáculo continuava. Todos que passavam não hesitavam em dar uma olhada, alguns condenavam; outros, indignados, expressavam a sua revolta através de expressões. Eu ria.

A discussão terminou e cada um foi para o seu lado, exceto as pessoas indignadas. Estas ganharam algum assunto para o jantar. Assim como eu.

06 setembro 2010

"A Turba" - Parte XV

Vozes. Vozes. Vozes.

Hoje, o singular tem necessidade de, a todo tempo, ser o plural. Como se, mantido o estado inicial, fosse desaparecer. Quer dizer, pior ainda, tornar-se-ia insignificante.

Assim, praticamente prostitui-se. Não soma, diminui. E sorri.

Eu sou um pesadelo. Nós somos o paraíso.

E no Jardim do Éden todos são iguais.

- gulp!